Estudo revela os efeitos da carga horária de trabalho na saúde
Quanto maior a jornada, maiores os riscos.
Um estudo, publicado no último dia 19 de agosto, pela revista médica Lancet, uma das mais importantes do mundo, faz um alerta sobre os efeitos da carga horária de trabalho para a saúde do trabalhador.
Quem já não viu esse filme? Nesses tempos modernos as horas passam e a gente não faz outra coisa além de trabalhar. É bom dar um tempo, porque isso mata. E não é linguagem figurada, tipo "estou morto de cansaço" depois de um dia duro.
Pesquisadores acompanharam 600 mil pessoas por cerca de sete anos. Entre os que trabalhavam 55 horas por semana ou mais, a ocorrência de derrame cerebral foi 33% maior do que entre os que tiveram jornada de 35 a 40 horas por semana. E a incidência de doenças cardiovasculares aumentou em 13%.
O chefe da pesquisa Mika Kivimäki diz que não importa a profissão, o nível social ou o sexo. O resultado é o mesmo. O mecanismo que causa as doenças - se é estresse, por exemplo - ainda precisa ser estudado.
O motorista do ônibus, o cozinheiro, o repórter de TV. A gente rala muito para sustentar a família, crescer na carreira, vencer a concorrência. Mas como fazer isso sem se dedicar de corpo e alma ao trabalho? Qual é a receita?
A gente pode ver o caso de um povo famoso pela dedicação ao trabalho. Os alemães são os mais ricos da Europa, mas, por incrível que pareça, estão entre os que menos trabalham no continente. Pouco mais de 35 horas por semana. Trabalhar bem, e não em excesso, é o jeito alemão de ganhar a vida.
Para o médico Renato Igino dos Santos, somar a possibilidade de fazer uma coisa que se gosta, num ritmo humanamente realizável, ao tempo livre é o que vai determinar a saúde do trabalhador. "Se o trabalho tem uma jornada enorme, que invade os finais de semana, as noites e os momentos de lazer, o trabalhador é absorvido por isso e todos os indicadores de saúde ficam prejudicados."
Ele destaca que, para trabalhadores expostos à situações nocivas a saúde, quanto maior a jornada, maiores os riscos. "Em um ambiente ruidoso, por exemplo, quanto mais tempo exposto ao ruído, maior a possibilidade de ter perda auditiva, assim como para funcionários que trabalham com produtos químicos mais alta é a possibilidade de se adquirir doenças relacionadas a esses produtos", diz o médico, ao lembrar que o adoecimento não está somente relacionado às exigências de produtividade, ritmo e pressão. "É uma forma de recompensa que não tem a ver com retorno financeiro, porque ele não deve ser a única forma de reconhecimento para o trabalhador."